quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Influência dos espíritos no mundo material

Por - Joilson José  Gonçalves Mendes


Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?
R: Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem. (Q 459 – L.E.)

A interrogativa do codificador da Doutrina dos Espíritos nos remete a uma série de outras interrogativas, que nos faz refletir sobre vários aspectos da vida. Sendo desde pequeninas coisas que fazemos no dia-a-dia, situações profissionais, familiares, de ordem emocional, empresariais até decisões governamentais.
Uma vez que são eles quem nos dirigem, o incauto poderia pensar que somos verdadeiras marionetes nas mãos de espíritos que ainda persistem em trilhar o caminho das trevas ao da luz. Estes seres teriam o poder de fazer com que as pessoas tomassem decisões erradas? Poderiam fazer com que alguém se jogasse de um edifício ou na frente de um trem? Seriam eles responsáveis pelas brigas familiares, assassinatos dentre outras atrocidades? Podem fazer com que duas pessoas se apaixonem? Aposto que neste momento alguns leitores lembraram de ter visto em alguma tabuleta os dizeres: “Amarração para o amor. Pagamento após o resultado”. E neste momento corre aquele arrepio pela coluna. Bom, a resposta é SIM e NÃO, depende.
Depende de que? Calma leitor (a) amigo (a) respondo: Depende da sua conduta ética/moral. E partindo do princípio de que estamos em um planeta de provas e expiações (com X, pois espiação com S é o ato de bisbilhotar a vida alheia) é fácil de deduzirmos como anda a NOSSA conduta moral, não é mesmo?
Como amenizar, uma vez que, eliminar esta interferência dos espíritos em nossa vida é quase que impossível? E o exorcismo, funciona? E o anjo da guarda, o guia espiritual o que fazem? Onde está Deus? Como o criador pode permitir isso? O que fazer? Calma! É por isso que chamamos a Doutrina Espírita de Doutrina esclarecedora e libertadora, ao ESTUDAR o Livro dos Espíritos e o Evangelho Segundo o Espiritismo você encontrará as respostas de que necessita, para ser uma pessoa livre de crendices que enfoca o medo e aprisiona, mas vamos procurar esclarecer alguns pontos neste texto. Antecipadamente quero dizer a você que o universo é mental, surgiu da mente de Deus, e tudo ocorre no campo mental, reflita.....
Para continuarmos faz-se necessário transcrever algumas questões de o Livro dos Espíritos que tudo ficará mais fácil.
Q. 456. Os espíritos veem tudo o que nós fazemos?
R: Podem ver, pois que constantemente vos rodeiam. Cada um, porém, só vê aquilo a que dá atenção. Não se ocupam com o que lhes é indiferente.
Esta questão nos remete a outro ensinamento que é uma lei universal, os semelhantes se atraem. Na física aprendemos que os opostos se atraem, entretanto, existe no universo a lei em que o semelhante atrai o semelhante, é a lei de afinidade e por isso eles só darão atenção ao que lhes for de interesse. Assim, um jogador atrairá espíritos que, quando encarnados, adoravam uma jogatina. Alcoólatras atrairão espíritos que gostavam de uma bebida alcoólica e assim sucessivamente com drogados, fumantes, sexolotras, assassinos, cientistas, pensadores, religiosos etc.


Q. 465. Com que fim os Espíritos imperfeitos nos induzem ao mal?
R: Para que sofrais como eles sofrem.
Esta é fácil de compreender. Se eu sou um infeliz, você também não será feliz. Infelizmente existem pessoas que são assim, não suportam ver a felicidade do próximo, são invejosas e quando deixam o corpo físico pelo fenômeno da morte, continuam sendo a mesma pessoa, infeliz e sofredora.

Q. 467. Pode o homem eximir-se da influência dos Espíritos que procuram arrastá-lo ao mal?
R: Pode, visto que tais Espíritos só se apegam aos que, pelos seus desejos, os chamam, ou aos que, pelos seus pensamentos, os atraem.
Ufa! Que alívio! Então eu posso escapar destas influências? Sim, claro que pode, caso não, onde estaria a justiça divina? Mas, leiam novamente a resposta, atentem para este detalhe: “só se apegam aos que, pelos seus desejos, os chamam, ou aos que, pelos seus pensamentos, os atraem”. Por isso Jesus alertou: “Vigiai e orai”. Passe a vigiar os vossos pensamentos e sentimentos, então terá uma ideia de qual classe de espíritos estará atraindo. Lembre-se o universo é mental.....

Q. 468. Renunciam às suas tentativas os Espíritos cuja influência a vontade do homem repele?
R: Que querias que fizessem? Quando nada conseguem, abandonam o campo. Entretanto, ficam à espreita de um momento propício, como o gato que tocaia o rato.
Sempre que você estiver fortalecido na sua fé e na prática do bem, criará entorno de ti um campo vibratório que neutralizará a presença de seres que lhe desejam fazer mal. Neste ponto percebo a importância de uma leitura edificante, a prática da caridade, o pensamento elevado, a frequencia na casa espírita ou em qualquer outro templo religioso, pois é no templo em que temos a oportunidade de aprendermos ouvindo palestras, conversando com pessoas que também compartilham dos mesmos ideais, até os livros de autoajuda cumprem seu papel.
Vejamos a pergunta: “...a vontade do homem repele”? Quão pouco utilizamos esta vontade! Joana de Ângelis em sua série psicológica nos alerta para o uso da vontade, que deve ser exercitada e que negligenciamos este atributo ofertado por Deus. Preferimos muitas vezes fazer o papel da vítima, do coitadinho. “Vejam só como eu sou um pobre coitado a mercê de espíritos malignos”. Obviamente que não fazemos isso conscientemente e que as influências chegam a pontos mais profundos que não nos compete alongarmos neste texto, mas é essa a mensagem que muitas vezes passamos para as pessoas, eu sou um coitadinho. Entenda que você é um ser de Luz destinado a mais alta elevação espiritual e que Deus, o Grande Arquiteto do Universo, lhe dotou de toda a capacidade possível para atingir este fim, basta você querer e começar pela tão famosa “FORÇA DE VONTADE”.
Notem a importância de exercitarmos, em nós, força de vontade, que o codificador voltou a repetir a pergunta na questão 475.
Q. 475. Pode alguém por si mesmo afastar os maus Espíritos e libertar-se da dominação deles?
R: Sempre é possível, a quem quer que seja, subtrair-se a um jugo, desde que com vontade firme o queira.

Q. 469. Por que meio podemos neutralizar a influência dos maus Espíritos?
R: Praticando o bem e pondo em Deus toda a vossa confiança, repelireis a influência dos Espíritos inferiores e aniquilareis o império que desejam ter sobre vós. Guardai-vos de atender às sugestões dos Espíritos que vos suscitam maus pensamentos, que sopram a discórdia entre vós outros e que vos insuflam as paixões más. Desconfiai especialmente dos que vos exaltam o orgulho, pois que esses vos assaltam pelo lado fraco. Essa a razão por que Jesus, na oração dominical, vos ensinou a dizer: “Senhor! Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.

Q. 477. As fórmulas de exorcismo têm qualquer eficácia sobre os maus Espíritos?
R: Não. Estes últimos riem e se obstinam, quando veem alguém tomar isso a sério.
Alguém poderá dizer: “Mas eu vi o padre/pastor/vizinho/ seja quem for, exorcizar o “demônio” de tal pessoa”.
1º o demônio não existe – pelo menos para o espírita. O que existem são pessoas más que ao desencarnarem continuam fazendo o mal e como não estão mais limitados pela matéria podem realizar atos que surpreenderia a qualquer um. O fato de pessoas relatarem já terem visto o demônio, nada mais é do que uma das propriedades do perispírito chamada de plasticidade.
2º se o padre/pastor/vizinho/ seja quem for, teve êxito em alguma forma de exorcismo, isto deve-se à conduta moral da pessoa e não às palavras e/ou práticas utilizadas.
3º imagine a seguinte situação: Estamos em 20 pessoas em uma sala pequena, então alguém vira para você e diz:
“Fulano (a) saia desta sala”.
Você simplesmente olha para a pessoa e diz: “Não saio.”
Ele repete: “Saia, eu lhe ordeno”.
E você: “Quem é você para ordenar algo? Qual a sua autoridade? Você é tão imoral quanto eu, pois que te conheço de longa data”.
Ele totalmente enfurecido: “Saia em nome de Deus”.
Você diz: “Eu sou ateu”
Parou para imaginar o quanto é ridícula esta cena? Chega a ser cômica! É assim que agem muitos espíritos, estando eles livre da matéria, podem seguir nossos passos, conhecem nossos pensamentos, sentimentos, intenções, isso para não falar daqueles que prejudicamos em vidas anteriores e que hoje nos perseguem sendo obsessores em busca de vingança. Somente a nossa reforma íntima, o desejo sincero de querer melhorar, o lapidar constante da pedra bruta que ainda somos, melhorando moralmente é que teremos condições de afastar aqueles irmãos que ainda não compreenderam os ensinamentos de Jesus e quem sabe com muito esforço poderemos fazer de um inimigo um amigo.

Q. 552. Que se deve pensar da crença no poder, que certas pessoas teriam, de enfeitiçar?
R: Algumas pessoas dispõem de grande força magnética, de que podem fazer mau uso, se maus forem seus próprios Espíritos, caso em que possível se torna serem secundados por outros Espíritos maus. Não creias, porém, num pretenso poder mágico, que só existe na imaginação de criaturas supersticiosas, ignorantes das verdadeiras leis da Natureza. Os fatos que citam, como prova da existência desse poder, são fatos naturais, mal observados e sobretudo mal compreendidos.

Q. 553. Que efeito podem produzir as fórmulas e práticas mediante as quais pessoas há que pretendem dispor do concurso dos Espíritos?
R: O efeito de torná-las ridículas, se procedem de boa-fé. No caso contrário, são tratantes que merecem castigo. Todas as fórmulas são mera charlatanaria. Não há palavra sacramental nenhuma, nenhum sinal cabalístico, nem talismã, que tenha qualquer ação sobre os Espíritos, porquanto estes só são atraídos pelo pensamento e não pelas coisas materiais.
Não pretendo me alongar muito com estas questões, pois são esclarecedoras por si só. Muitas pessoas que dizem fazer “feitiços/trabalhos” para outrem, estão se comprometendo espiritualmente, hoje elas se utilizam de falanges de espíritos que lhes auxiliam em suas más intenções, amanhã serão escravos de verdadeiros líderes, magos negros que se encontram nas regiões umbralinas.


Q. 466. Por que permite Deus que Espíritos nos excitem ao mal?
R: Os Espíritos imperfeitos são instrumentos próprios a por em prova a e a constância dos homens na prática do bem. Como Espírito que és, tens que progredir na ciência do infinito. Daí o passares pelas provas do mal, para chegares ao bem. A nossa missão consiste em te colocarmos no bom caminho. Desde que sobre ti atuam influências más, é que as atrais, desejando o mal; porquanto os Espíritos inferiores correm a te auxiliar no mal, logo que desejes praticá-lo. Só quando queiras o mal, podem eles ajudar-te para a prática do mal. Se fores propenso ao assassínio, terás em torno de ti uma nuvem de Espíritos a te alimentarem no íntimo esse pendor. Mas outros também te cercarão, esforçando-se por te influenciarem para o bem, o que restabelece o equilíbrio da balança e te deixa senhor dos teus atos.
É assim que Deus confia à nossa consciência a escolha do caminho que devamos seguir e a liberdade de ceder a uma ou outra das influências contrárias que se exercem sobre nós.

O assunto é extenso e de relevância que não nos permite prosseguir em maiores detalhes, saibamos que existe um Deus criador do universo, de tudo o que existiu, de tudo o que existe e de tudo o que está por vir, e estabeleceu leis que são inexoráveis, mas nós ainda não as compreendemos em sua totalidade.
Se existem espíritos que procuram nos prejudicar, também existem aqueles que nos protegem, nos orientam pelo pensamento, nos auxiliam sempre que fazemos uma prece com fé fervorosa, porque Deus nunca deixa um filho seu desamparado, nós é que muitas vezes esquecemos dele.
Por enquanto, permaneçamos com os ensinamentos de Jesus e tudo virá a seu tempo. Basta colocarmos em prática apenas dois ensinamentos: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo. Isto já é o suficiente para toda uma vida e fazer com que espíritos que nos desejam mal reflitam ao observar o esforço que fazemos para melhorar e busquem também a sua reforma interior. Paz e Luz.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
O Livro dos Espíritos – Cap IX – Intervenção dos espíritos no mundo corporal – Questões 456 a 557
O Evangelho Segundo o Espiritismo

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013


O Livro dos Espíritos

Parte Primeira – As Causas Primárias

Capítulo 1 – Deus

Deus e o infinito – Provas da existência de Deus – Atributos da Divindade – Panteísmo



Deus e o infinito

1 O que é Deus?
– Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.1
2 O que devemos entender por infinito?
– O que não tem começo nem fim; o desconhecido; tudo o que é desconhecido é infinito.
3 Poderíamos dizer que Deus é infinito?
– Definição incompleta. Pobreza da linguagem dos homens, que é insuficiente para definir as coisas que estão acima de sua inteligência.
 Deus é infinito em suas perfeições, mas o infinito é uma abstração. Dizer que Deus é infinito é tomar o atributo2 de uma coisa por ela própria, é definir uma coisa que não é conhecida por uma outra igualmente desconhecida.

Provas da existência de Deus

4 Onde podemos encontrar a prova da existência de Deus?
– Num axioma que aplicais às vossas ciências: não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem, e a vossa razão vos responderá.
 Para acreditar em Deus, basta ao homem lançar os olhos sobre as obras da criação. O universo existe, portanto ele tem uma causa. Duvidar da existência de Deus seria negar que todo efeito tem uma causa e admitir que o nada pôde fazer alguma coisa.
5 Que conclusão podemos tirar do sentimento intuitivo que todos os homens trazem em si mesmos da existência de Deus?
– A de que Deus existe; de onde lhes viria esse sentimento se repousasse sobre o nada? É ainda uma conseqüência do princípio de que não há efeito sem causa.
6 O sentimento íntimo que temos em nós da existência de Deus não seria o efeito da educação e das idéias adquiridas?
– Se fosse assim, por que vossos selvagens teriam também esse sentimento?
 Se o sentimento da existência de um ser supremo fosse o produto de um ensinamento, não seria universal. Somente existiria naqueles que tivessem recebido esse ensinamento, como acontece com os conhecimentos científicos.
7 Poderemos encontrar a causa primária da formação das coisas nas propriedades íntimas da matéria?
– Mas, então, qual teria sido a causa dessas propriedades? Sempre é preciso uma causa primária.
 Atribuir a formação primária das coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, porque essas propriedades são elas mesmas um efeito que deve ter uma causa.
8 O que pensar da opinião que atribui a formação primária a uma combinação acidental e imprevista da matéria, ou seja, ao acaso?
– Outro absurdo! Que homem de bom senso pode conceber o acaso como um ser inteligente? E, além de tudo, o que é o acaso? Nada.
 A harmonia que regula as atividades do universo revela combinações e objetivos determinados e, por isso mesmo, um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso seria um contra-senso, porque o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um acaso inteligente não seria mais um acaso.
9 Onde é que se vê na causa primária a manifestação de uma inteligência suprema e superior a todas as inteligências?
– Tendes um provérbio que diz: “Pela obra reconhece-se o autor.” Pois bem: olhai a obra e procurai o autor. É o orgulho que causa a incredulidade. O homem orgulhoso não admite nada acima dele; é por isso que se julga um espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!
 Julga-se o poder de uma inteligência por suas obras. Como nenhum ser humano pode criar o que a natureza produz, a causa primária é, portanto, uma inteligência superior à humanidade.
Quaisquer que sejam os prodígios realizados pela inteligência humana, essa inteligência tem ela mesma uma causa e, quanto mais grandioso foro que ela realize, maior deve ser a causa primária. É essa inteligência superior que é a causa primária de todas as coisas, qualquer que seja o nome que o homem lhe queira dar.

Atributos da Divindade

10 O homem pode compreender a natureza íntima de Deus?
– Não, falta-lhe, para isso, um sentido.
11 Um dia será permitido ao homem compreender o mistério da Divindade?
– Quando seu Espírito não estiver mais obscurecido pela matéria e, pela sua perfeição, estiver mais próximo de Deus, então o verá e o compreenderá.
 A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender a natureza íntima de Deus. Na infância da humanidade, o homem O confunde muitas vezes com a criatura, da qual lhe atribui as imperfeições; mas, à medida que o senso moral nele se desenvolve, seu pensamento compreende melhor o fundo das coisas e ele faz uma idéia de Deus mais justa e mais conforme ao seu entendimento, embora sempre incompleta.
12 Se não podemos compreender a natureza íntima de Deus, podemos ter idéia de algumas de suas perfeições?
– Sim, de algumas. O homem as compreende melhor à medida que se eleva acima da matéria. Ele as pressente pelo pensamento.
13 Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, não temos uma idéia completa de seus atributos?
– Do vosso ponto de vista, sim, porque acreditais abranger tudo. Mas ficai sabendo bem que há coisas acima da inteligência do homem mais inteligente e que a vossa linguagem, limitada às vossas idéias e sensações, não tem condições de explicar. A razão vos diz, de fato, que Deus deve ter essas perfeições em grau supremo, porque se tivesse uma só de menos, ou que não fosse de um grau infinito, não seria superior a tudo e, por conseguinte, não seria Deus. Por estar acima de todas as coisas, Ele não pode estar sujeito a qualquer instabilidade e não pode ter nenhuma das imperfeições que a imaginação possa conceber.
 Deus é eterno. Se Ele tivesse tido um começo teria saído do nada, ou teria sido criado por um ser anterior. É assim que, de degrau em degrau, remontamos ao infinito e à eternidade.
É imutável; se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o universo não teriam nenhuma estabilidade.
É imaterial, ou seja, sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria; de outro modo não seria imutável, porque estaria sujeito às transformações da matéria.
É único; se houvesse vários deuses, não haveria unidade de desígnios, nem unidade de poder na ordenação do universo.
É todo-poderoso, porque é único. Se não tivesse o soberano poder, haveria alguma coisa mais ou tão poderosa quanto Ele; não teria feito todas as coisas e as que não tivesse feito seriam obras de um outro Deus.
É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das Leis Divinas se revela nas menores como nas maiores coisas, e essa sabedoria não permite duvidar de sua justiça nem de sua bondade.

Panteísmo

14 Deus é um ser distinto, ou seria, segundo a opinião de alguns, resultante de todas as forças e de todas as inteligências do universo reunidas?
– Se fosse assim, Deus não existiria, porque seria o efeito e não a causa; Ele não pode ser ao mesmo tempo uma e outra coisa.
Deus existe, não podeis duvidar disso, é o essencial. Crede em mim, não deveis ir além, não vos percais num labirinto de onde não podereis sair, isso não vos tornaria melhores, mas talvez um pouco mais orgulhosos, porque acreditaríeis saber e na realidade não saberíeis nada. Deixai de lado todos esses sistemas; tendes muitas coisas que vos tocam mais diretamente, a começar por vós mesmos. Estudai vossas próprias imperfeições a fim de vos desembaraçar delas, isso vos será mais útil do que querer penetrar no que é impenetrável.
15 O que pensar da opinião de que todos os corpos da natureza, todos os seres, todos os globos do universo, seriam parte da Divindade e constituiriam, pelo seu conjunto, a própria Divindade, ou seja, o que pensar da doutrina panteísta?
– O homem, não podendo se fazer Deus, quer pelo menos ser uma parte d’Ele.
16 Aqueles que acreditam nessa doutrina pretendem nela encontrar a demonstração de alguns atributos de Deus. Sendo os mundos infinitos, Deus é, por isso mesmo, infinito; não havendo o vazio ou o nada em nenhuma parte, Deus está, portanto, em toda parte; Deus, estando por toda parte, uma vez que tudo é parte integrante de Deus, dá a todos os fenômenos da natureza uma razão de ser inteligente. O que se pode opor a esse raciocínio?
– A razão. Refleti maduramente e não vos será difícil reconhecer o absurdo disso.
 Esta doutrina faz de Deus um ser material que, embora dotado de uma inteligência suprema, seria em tamanho grande o que nós somos em tamanho pequeno. Uma vez que a matéria se transforma sem parar, se assim for, Deus não teria nenhuma estabilidade, estaria sujeito a todas as mudanças e variações, a todas as necessidades da humanidade, e lhe faltaria um dos atributos essenciais da Divindade: a imutabilidade. Não se pode imaginar que são as mesmas as propriedades da matéria e a essência de Deus, sem O rebaixar na nossa concepção. Todas as sutilezas do sofisma3 não conseguirão resolver o problema na sua natureza íntima. Não sabemos tudo o que Deus é, mas sabemos o que não pode deixar de ser, e a teoria do panteísmo está em contradição com suas propriedades mais essenciais; ela confunde o criador com a criatura, exatamente como se afirmasse categoricamente que uma máquina engenhosa fosse parte integrante do mecânico que a concebeu.
A inteligência de Deus se revela em suas obras como a de um pintor em seu quadro, mas as obras de Deus não são o próprio Deus, assim como o quadro não é o pintor que o concebeu e executou.



  1. O texto colocado após o travessão na seqüência das perguntas é a resposta que os Espíritos deram. O sinal  indica que é um comentário de Kardec às respostas dos Espíritos (N. E.).
  2. Atributo: qualidade de um ser, aquilo que lhe é próprio. Neste caso, ser infinito é uma das qualidades de Deus entre todas as demais, mas não é só isso, ou não é o bastante para O concebermos (N. E.).
  3. Sofisma: argumento falso, enganoso, feito de propósito para induzir ao erro (N. E.).